VAI FALTAR FUNDIDO NO MERCADO?
A indústria de fundição já dá sinais de recuperação gradual, espelhando a confiança do empresário industrial com as políticas de infraestrutura anunciadas pelo governo federal e retomada do setor automotivo.
Em julho, a produção de fundidos já foi 16,6% superior à de junho e assim deve continuar, se depender da demanda estimada. Mas a questão que coloco é: Seremos capazes de atendê-la?
O Brasil tem qualidade e capacidade instalada para a produção de 4 milhões de toneladas anuais, o que é suficiente para atender a esta demanda crescente.
O desequilíbrio do mercado mundial pela pandemia e a inexistência de uma política interna industrial e de mercado é um desafio para todos os empresários.
Na ponta de compras, temos sérios problemas. Este ano, por conta da pandemia e paralisação temporária das principais economias, tivemos uma desorganização do mercado, de certa forma esperado.
A retomada de alguns países, antes dos outros, está provocando uma corrida no mercado e a valorização do dólar. Trata-se de uma boa notícia para quem exporta, mas uma péssima para quem depende direta ou indiretamente das importações, e também para aqueles que não importam, mas veem suas matérias-primas sendo exportadas e valorizadas no mercado interno como se fossem itens importados.
No caso da fundição, destacamos dois itens em especial; principais insumos para a produção do ferro e aço fundidos: a sucata e o ferro-gusa.
A sucata não é produzida, mas sim gerada pelo mercado. Já o ferro-gusa é uma commodity, que é produzida internamente e sempre teve um volume significativo voltado para a exportação.
Temos ainda o alumínio, básico na fundição de não ferrosos, o qual depende da sucata gerada internamente e acompanha o nível de preços da LME, em dólar.
Com a paralisação do mercado interno na pandemia, a geração cessou. Mas a retomada de alguns países antes do nosso fez com que a demanda externa encontrasse no Brasil uma fonte disposta a exportar e com preços muito competitivos. Como resultado, os preços dos insumos e matérias-primas para as fundições estão crescendo de forma exponencial, correndo o risco, inclusive, de desabastecimento interno.
No lado das vendas, poucas empresas conseguem fazer um contrato com repasses quase automáticos de custos, baseando nos índices existentes, a exemplo do que ocorre nos países mais desenvolvidos.
Infelizmente, a maioria ainda continua na luta pelo reajuste durante tempo indefinido, tentando provar para seu cliente os aumentos dos insumos, já reconhecidos pelo mercado.
A realidade: os preços das matérias-primas estão disparando e a escassez já bate à nossa porta. Neste momento, o importante é entender o mercado. Verifiquem seus custos e evitem de toda forma a guerra de preços. Pela fragilidade do momento, a vítima pode vir a ser a sua empresa.
A boa notícia é que toda esta situação é fruto da recuperação da economia, que já está ocorrendo. Portanto, sem desespero, vamos juntos e nos apoiando mutuamente até o término dessa pandemia, que mostra claros sinais de que está se esgotando.
Afonso Gonzaga
Presidente ABIFA
FONTE: SITE ABIFA